Uma operação da Delegacia do Consumidor, nesta segunda-feira, prendeu cinco pessoas suspeitas de integrarem uma quadrilha que fazia procedimentos estéticos de maneira irregular no Rio. Três delas são velhas conhecidas da polícia. Eletricista, Almir Paixão da Silveira Júnior, de 35 anos, é réu no processo de homicídio contra Fernanda Rodrigues, a MC Atrevida, de 2020. Ele não tem formação médica, e se apresentava aos clientes como “Doutor Júnior”. Já o médico peruano Jaime Javier Garcia Caro, de 44 anos, e o anestesista colombiano Jean Paul Perez Barraza, de 29, foram presos, em novembro do ano passado, durante uma lipoaspiração numa paciente. A formação de ambos não é reconhecida no Brasil.
Sumiu na Praia da Barra: O que se sabe sobre o desaparecimento do menino Édson Davi
‘Vagabundos! Cana neles!’: Após condenação do delegado Maurício Demetrio, Eduardo Paes reage
Além dos três citados acima, foram presas Rafaella Ferreira Trovão da Silveira, de 34 anos, esposa de Almir Paixão, e responsável pela administração das clínicas de estética, e Antônia Gerda Araújo Pinto, de 55, apontada como quem atraia as vítimas para os procedimentos. Segundo a Decon, os cinco seriam parte de um mercado clandestino de falsos médicos e profissionais sem registro que ofereceriam preços muito abaixo dos de mercado. Ao menos três clínicas são relacionadas ao grupo: Iguaçu Plástica Day, Rainha das Plásticas e Beauty Corpus.
A polícia afirma que, para conseguir atrair as vítimas, a quadrilha usava influencers e postagens em rede sociais. Eles prometiam que os procedimentos seriam realizados em hospitais, mas, na verdade, usavam salas improvisadas, apontam as investigações. Vítimas que procuraram a polícia denunciaram terem ficado com deformidades e problemas de saúde.
Suspeitos de integrar quadrilha que faz procedimentos estéticos ilegais são presos no Rio
Os mandados de prisão temporária contra os cinco presos foram cumpridos em diferentes pontos do Rio: Realengo (Zona Oeste da capital), Rio das Ostras (Região dos Lagos), Parque Anchieta (Zona Norte da capital) e Duque de Caxias (Baixada Fluminense).
Os presos respondem por lesão corporal gravíssima, associação criminosa, exercício ilegal da medicina e executar serviço de alto grau de periculosidade, contrariando determinação legal. Eles foram encaminhados para o sistema prisional, onde permanecerão à disposição da Justiça.
Morte de MC Atrevida
Almir Paixão é um dos réus no homicídio da funkeira Fernanda Rodrigues, a MC Atrevida, em 30 de julho de 2020. Ela morreu, após 11 dias internada, em decorrência de complicações de uma lipoescultura, cirurgia que retira gordura das costas para enxerto nos glúteos. No processo, também são citados Wilson Ernesto Galarza Jara, de 80 anos, ginecologista responsável pelo procedimento — sem reconhecimento no Cremerj para isso —, e Wania Tavares, dona da clínica Rainha das Plásticas, em Vila Isabel, onde esse foi realizado.
Nesse ano, Almir trabalhava como funcionário da clínica, ora atuando como enfermeiro, ora como anestesista. O processo, de competência do Tribunal do Júri, foi aberto em 2020 e continua em andamento, sem pronunciamento dos réus. Em 2022, ele foi segmentado em outro, já que o médico Wilson Ernesto entrou com pedido de incidente de sanidade.
Para Renan Decottignies, advogado que representa a MC Atrevida, a demora na sentença do caso diz respeito a condição e origem da família, de raízes na comunidade.
— A família da Fernanda, suas 4 filhas e netos, ainda esperam justiça por sua morte. A gente tem expectativa de que as autoridades atuem em conjunto e de forma preventiva contra essas práticas criminosas. Essas pessoas se aproveitam do sonho de pessoas, sobretudo mulheres pobres e de periferia, para colocar em risco a saúde e a vida delas. Não pode haver impunidade — diz.
Médicos estrangeiros
Em novembro de 2023, uma ação conjunta da Decon, de fiscais do Conselho Regional de Odontologia (CRO), de agentes da Vigilância Sanitária de Nova Iguaçu (Suvisa) e de peritos do Serviço de Perícias da Cidade da Polícia (SPCID-ICCE) interditou a Clínica Iguaçu Plásticas Day, que funcionava irregularmente em Nova Iguaçu, na Baixada. No local, segundo a polícia, eram realizados procedimentos estéticos de alta complexidade sem licença sanitária. Na ocasião, Jaime Javier e Jean Paul foram presos em flagrante.
Os dois iniciavam uma lipoaspiração numa mulher de 29 anos quando foram flagrados pelos agentes. A vítima havia sido sedada por Jean Paul, segundo as investigações. Ao perceber a chegada dos policiais o colombiano ainda tentou sair da sala de cirurgia retirando o jaleco que vestia, mas foi contido pela equipe. Tanto ele quanto Jaime Javier estavam em liberdade e foram presos em suas casas na ação desta segunda-feira.
Os responsáveis pela Iguaçu Plásticas Day eram o eletricista Almir Paixão e Rafaella Ferreira — ela também era dona da clínica Estética Beauty Corpus, que já havia sido interditada pela Decon em junho de 2022. Após o fechamento do espaço, ele foi reaberto com um novo nome e os procedimentos estéticos ilegais continuaram a ser realizados.